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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Macho alfa

Voltando para casa hoje fiquei pensando em muitas coisas (esse é o lado bom de andar a pé, dá tempo de pensar em muitas coisas), e uma delas foi a frase que me disseram e têm me dito muitas pessoas: tem que ser do meu jeito.
Então comecei a lembrar de pequenas coisas que me fizeram entender que na frase “meu” tem que ser meu e de mais ninguém, uma vez que não gosto de ser submetida a regras e ordens. Eu nasci para decidir e tive essa certeza hoje.
Me lembro de quando era pequena e disse a minha avó que não queria mais tomar leite na mamadeira, eu queria no copo – afinal já era uma mocinha de 6 anos. Me lembro também da vez que decidi que pararia de me desculpar, porque era impossível só eu estar sempre errada – isso no auge dos meus 10 ou 11 anos. Decidi por volta dos 14 que eu não seria como as outras meninas da minha sala, que minha cor preferida não seria rosa, e que também não seria a primeira da turma. Com 15 decidi que deveria começar a beber e me parecer um pouco com as outras pessoas da minha idade. Com 18 decidi que deveria viver la vida loca e experimentar coisas que devem ser experimentadas na faculdade – sexo, drogas e rock ‘n roll.
Na maior parte das vezes que decidi algo deu certo, outras tantas deram muito errado mas sempre arquei –e continuo arcando – com as consequências de cada decisão tomada. Porém a parte que eu quero chegar em tudo isso é que EU decidi e mais ninguém, foram coisas que eu fiz por mim mesma por motivos que foram só meus e não cabe a ninguém me dizer que tem de ser de outro jeito. Isso me torna uma pessoa um pouco egoísta, talvez (sim!).
De todas as vezes citadas a cima que a decisão me levou a algum tipo de arrependimento não foi doloroso porque fiz por mim e pelo que eu queria na época. A única decisão que me perturba ainda nos dias de hoje foi quando decidi que deveria ser do jeito de outra pessoa.
Como eu tenho assistido muitos seriados e lido muitos livros, tenho passado pela minha cabeça um conceito de busca interior e me encontrei em um outro conceito chamado: macho alfa. Toda alcateia tem um macho alfa que rege as regras e toma a frente de todos os outros, e na minha busca interior por mim mesma cheguei à conclusão que eu sou o macho alfa. Isso mesmo, MACHO ALFA com letras garrafais.
Sou macho alfa porque gosto de tomar as minhas decisões, porque me responsabilizo por elas – mesmo que sejam ruins. Gosto de saber que tenho o controle de mim mesma, das roupas que eu uso, da forma como me comporto, como gasto meu dinheiro, com quem me relaciono, os lugares que frequento, etc. Gosto de saber que sou a dona da minha vida e que ninguém tem que fazer do meu jeito porque entendo sobre livre-arbítrio, e por entender isso tenho andado pelos caminhos que escolhi.

O que os livros têm me reconfortado ainda é que mesmo que eu me perca nisso tudo que se chama MINHA vida é nessa perda que irei me encontrar, assim como acaba de acontecer. Me perdi de tudo aquilo que eu comecei decidir aos poucos com 6 anos, saí do meu caminho para poder entender que tudo tem que ser do meu jeito.

domingo, 4 de setembro de 2016

Eu olho ao redor e até onde eu posso ver só existe areia. Está quente e frio ao mesmo tempo. Eu tento correr mas meus pés estão grudados em um monte de areia que quanto mais eu mecho mais eles vão me sugando pra dentro de uma coisa escura que eu não sei o que é. Hoje, lá fora está chovendo, mas aqui dentro o ar está tão seco que meu nariz dói e eu mal consigo respirar. Sinto que a qualquer momento tudo o que existe aqui vai virar pó, e tudo o que sobrar de mim vai ser levado com o vento junto com a areia que vez ou outra vai mudando de monte deixando uns mais altos e outros mais baixos. As vezes aqui dentro é tão quentinho que tenho vontade de deitar e me unir aos grãos que me cercam e adormecer pra sempre no quentinho como um bebê no útero da mãe. As vezes só quero que pare de ventar e que os grãos parem de incomodar as minhas vistas pra eu poder ver o que tem além desses montes de areias que me cercam. Não sei bem onde é aqui. Não sei nem se um dia já estive em um lugar diferente ou se tudo o que eu já vi foi apenas uma miragem daquelas que as pessoas têm no desertos quando estão delirando de tanta sede. Não sei se sou eu que estou presa aqui, ou se eu coloquei toda essa areia aqui.
Tem dias que eu fico aqui imaginando o que pode haver por trás dos montes de areia. Será que há mais vida? Será que existem pessoas saudáveis e que não são presas a montes de areia? Ou será que alguém já conseguiu sair do seu monte de areia para ver o que há do outro lado? Ou além dos montes não existe mais nada? Será que os montes de areia é que fazem disso tudo uma coisa real? Ou o real nem existe?

Se existir alguma coisa além disso aqui eu imagino que seja como um campo de flores, cheio de animais, ensolarado porém não quente como aqui. Imagino chuvas amenas para regar as flores. Imagino também pequenas casas com pequenos seres tendo uma vida normal sem as tempestades de areia. Imagino que tudo além daqui só traz paz. Seria então a morte, ou a libertação da morte diária que é estar eternamente em uma tempestade de areia?