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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Vinte e um de abril


Eu escrevia seu nome em letras garrafais na minha agenda. Fazia a letra bem redondinha tipo caligrafia, estendendo até o fim todas as letras. Enchia de coraçõezinhos em volta. E embaixo escrevia como havia sido maravilhosa a aula porque você sentou do me lado. Escrevia como foi lindo quando você sentiu ciúmes a primeira vez. Escrevia sobre a primeira vez. Escrevia sobre como eu descobri cada parte sua que eu podia amar e odiar ao mesmo tempo. Falava sobre como foi triste fingir pra mim mesma que não te queria mais em todas as vezes que a gente brigou porque eu sou louca e você é estranho. Contava pra mim mesma umas cem vezes do dia que você disse que gostava de mim no meio daquela festa e me roubou um beijo escondidinho de todos só porque você queria me esconder como sempre. Escrevia cada dia, cada detalhe, toda briga, a última vez, o choro, a briga, o adeus. Escrevia porque sou boa com palavras escritas. Nunca soube dizer o que sentia. Talvez porque nunca soube sentir. Mas finalmente, um dia eu acordei sobre o seu colchão azul e não senti nada. Olhei pra você e te odiei. Soube naquele momento exatamente o que sentir. Soube que tudo o que eu escrevia não existia mais, e talvez nunca tivesse existido antes. Vinte e um de abril. Há três meses.
Parei de escrever seu nome em letras garrafais. Parei de contar nossa história pra qualquer pessoa que fosse que me perguntasse como andam os namoros. Nunca mais contei ou escrevi qualquer coisa que tenhamos vivido. Nunca mais nem soube de você. Nunca mais é apenas três meses e seis dias e pra gente já é tempo demais.
Agora eu tento não escrever o nome do outro. O outro é a paz de que eu tanto precisava. Não escrevo o nome dele. Não vou embora chorando pra casa. Não viajo quentinha debaixo do edredom no ônibus. Não conto mil vezes que ele dorme feito uma pedra. E quando me perguntam dos namorados eu respondo: Quando eu tiver um, publico no Facebook.
Seu nome em letras garrafais com uma caligrafia impecável está registrado na minha agenda, na minha memória e na minha pele, mas não é nada que o tempo não possa apagar.

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